A irrigação é uma tecnologia sustentável?

Técnica aumenta produtividade e é uma das soluções para driblar problemas de estiagem

A irrigação é uma tecnologia sustentável?

Clima seco, estiagem e solos sem reserva de água. Essa combinação de fatores tem causado problemas para os produtores rurais, principalmente na última safra, e a irrigação é uma das soluções disponíveis para amenizar a situação. Mas será que a quantidade de água utilizada pelos pivôs não poderia esgotar esse recurso natural?

Em uma propriedade localizada no distrito Campos de Holambra, em Paranapanema, no interior de São Paulo, o produtor rural Mario Van Den Broek utiliza irrigação por pivô central para auxiliar no crescimento da soja, trigo e aveia plantados durante o ano. “A lavoura não estaria assim [viçosa], principalmente este ano devido a seca. Em toda a região chove muito, mas aqui na nossa região nós temos que nos contentar com chuvas de 5 milímetros em duas semanas. O resto a gente tem que complementar com pivô”, conta Mario.

O produtor também explica como a tecnologia é utilizada na fazenda. “O ciclo deste pivô dá um giro a 100% em 6 horas, mas aí ele joga 3 mm de água. Então a gente trabalha sempre em 35%, 40% [da capacidade] para ele dar um giro em 12 horas”.

Nas áreas irrigadas da propriedade, a expectativa é colher 30 sacas de soja a mais na próxima safra. “Se o produtor tivesse que escolher apenas uma tecnologia, seria muito interessante ele investir na irrigação. Com a irrigação você consegue produzir muito mais, as produtividades aumentam muito. Por exemplo, essa soja aqui, se ela fosse cultivada sem irrigação, talvez a gente conseguiria colher 150 sacas por hectare, mas agora a gente espera colher em torno de 80 sacas”, diz Luciano Van Den Broek, produtor rural e presidente da Associação do Sudoeste Paulista de Irrigação e Plantio na Palha (Aspipp).

Investimento

Quanto ao investimento para colocar um pivô na propriedade, Luciano acredita que o custo-benefício vale a pena. “Para essa área específica o payback [do investimento] foi de três anos. Então é um investimento que foi muito rentável, hoje a gente sabe que os preços das máquinas agrícolas, das benfeitorias, dos equipamentos de irrigação, subiram muito. Mas mesmo assim a gente fez alguns estudos para algumas novas áreas que a gente quer colocar irrigação e o payback vai ser em torno de 6 a 7 anos, o que ainda é bastante rentável, ainda mais se a gente colocar na ponta do lápis que é um seguro. A gente está colocando sem precisar pagar a mais por um seguro para a seca, porque a gente tá colocando a chuva onde não chove”, defende.

Em uma outra propriedade, do produtor Luiz Fernando Doneux, há 120 hectares de lavoura irrigada, onde eles utilizam o pivô com base em cálculos precisos. “Nós temos uma equipe que faz a medição da umidade do solo e nós irrigamos de acordo com a necessidade da planta, nem mais nem menos. A gente procura sempre atender o que é necessário pela planta com dados, não é no chutômetro”, diz o produtor.

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Sustentabilidade

A agricultura irrigada pode ser considerada sustentável por otimizar a capacidade das áreas produtivas. “[Com a irrigação] o produtor consegue ter um retorno muito maior na área dele, então é um investimento melhor do que comprar uma área nova. Ele consegue produzir e extrair muito mais retorno, muito mais dinheiro ele consegue extrair da propriedade. E para a população, a gente utilizando a irrigação de maneira sustentável, você vai precisar abrir muito menos áreas, sejam áreas de pastagens degradadas e até mesmo de floresta. Então a gente vai preservar a floresta, o bioma amazônico, principalmente, utilizando mais irrigação”, acredita Luciano Van Den Broek.

A opinião do produtor rural também é compartilhada por Thiago Fontenelle, que é coordenador de estudos da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). “A irrigação de fato pode ser um elemento de sustentabilidade para a agricultura porque você produz mais sacas na mesma área. Isso diminui a perspectiva de expansão para áreas novas, então de fato a irrigação é um fator de sustentabilidade. E o irrigante ele precisa de uma série de autorizações, de licenças, inclusive, pelo uso da água, que procuram garantir essa sustentabilidade também do ponto de vista do uso da água”, explica Thiago.

No entanto, Thiago chama a atenção que o manejo dos equipamentos de irrigação, bem como a manutenção deles, são importantes para que a técnica seja bem sucedida. Outro aspecto fundamental é a avaliação do local onde a irrigação será realizada, bem como a obtenção das licenças necessárias.

“A irrigação é uma tecnologia incrível e muito importante, de fato, para o avanço da agricultura brasileira. Mas há também casos de irrigante que não faz bons estudos de viabilidade e acaba perdendo seu investimento, seja pela falta de água ou por outros fatores que afetam a produção e que não foram bem analisados no início do processo. Então há um potencial enorme no Brasil de crescimento, mas é preciso ter muito cuidado com esses estudos de viabilidade e a busca das autorizações necessárias”, conclui o coordenador da ANA.

Confira o programa Planeta Campo com a participação de Thiago Fontenelle: