Entenda os motivos para o crescimento de 45% dos biopesticidas no Brasil

Previsões indicam que em 2028 o mercado mundial de biopesticidas será de 27,9 bilhões de dólares

Nos últimos 5 anos, a taxa anual composta de crescimento do mercado brasileiro de biopesticidas foi de 45%, enquanto para os pesticidas comuns foi de 6%, segundo a Embrapa.

Segundo o pesquisador Wagner Bettiol, da Embrapa Meio Ambiente, na cultura da soja, a área tratada com biopesticidas subiu de 12 milhões de hectares, em 2020, para 20 milhões de hectares, em 2023, e praticamente a mesma tendência ocorreu com outras culturas.

“A área tratada com controle biológico em 2022, no Brasil, foi de 70 milhões de hectares. É um crescimento espetacular, principalmente pela facilidade de aplicação e custos desses produtos”, destaca o pesquisador.

Outro dado divulgado pela empresa, foi a quantidade de produtos biológicos registrados nos últimos 13 anos. Em 2011, o Brasil tinha 26 produtos registrados. Já em 2023, o portfólio continha 616 produtos.

Mas quais os principais motivos para o crescimento dos biopesticidas?

Pesticidas

Foto: Envato

De acordo com Bettiol, em entrevista ao Planeta Campo, um dos principais fatores é a extensão das áreas cultivadas no Brasil, que figura entre os países com uma das maiores extensões agrícolas do mundo.

“Essa vasta área demanda soluções eficazes de controle biológico para garantir a saúde das plantações e a qualidade dos produtos agrícolas”.

Além disso, o país possui uma longa tradição no desenvolvimento e uso de controle biológico, especialmente em culturas de grande importância econômica, como cana-de-açúcar e laranja. Essa expertise acumulada ao longo dos anos tem contribuído para o avanço das técnicas e tecnologias relacionadas ao controle biológico.

Outro ponto que impulsionou esse crescimento foi a mudança na regulamentação a partir de 2010, com a simplificação do processo de registro de biopesticidas.

“Essa medida facilitou a entrada de novos produtos no mercado e estimulou o investimento em pesquisa e desenvolvimento nessa área. A crescente demanda por produtos livres de resíduos de pesticidas também tem impulsionado o uso de controle biológico.”

Além disso, os biopesticidas apresentam um menor custo de desenvolvimento em comparação com alguns produtos químicos tradicionais, o que tem atraído a atenção dos produtores.

“Essa vantagem econômica aliada aos benefícios ambientais e de saúde tem contribuído para a crescente adoção do controle biológico na agricultura brasileira. O custo para desenvolver um produto químico, está em torno de 300 milhões de dólares, enquanto um produto biológico custa de 1 a 5 milhões de dólares, uma diferença considerável”.

Trichoderma

Para o pesquisador Sergio Mazaro, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, a introdução de Trichoderma no sistema de manejo é fundamental para obter sucesso no controle de fitopatógenos habitantes do solo.

Ele destacou os grandes desafios para o uso de produtos biológicos de forma racional e eficiente, como os cuidados com os produtos, a especificidade dos isolados ou cepas, o alvo biológico, as formas e condições de aplicação, as compatibilidades química e biológica, bem como as formulações e as tecnologias envolvidas no manejo do sistema.

Lecio Kaneco, engenheiro-agrônomo da empresa Ballagro, destacou que a empresa nasceu de um produto à base de Trichoderma.

“Nossa evolução no mercado é graças ao Trichoderma e às pesquisas desenvolvidas com esse organismo”, declarou.

O professor da Universidade de Salamanca Enrique Monte falou sobre a adaptabilidade do Trichoderma.

“A principal característica que define o gênero Trichoderma é o seu oportunismo, ou seja, sua enorme capacidade para colonizar qualquer substrato em qualquer ambiente, desde a Antártida até o Caribe ou o deserto de Saara”, destaca Monte.

O professor conta que começou seus estudos com esse organismo em 1986, e que naquela época, era considerada uma ideia excêntrica “de hippies, que propunham respeito a natureza. Não se considerava algo científico. Curiosamente, China, Índia e Brasil estavam trabalhando com isso, desenvolvendo controle biológico, talvez pelo fato de os agrotóxicos serem mais caros”, analisou o professor. E agora muitas empresas que não trabalhavam com esses organismos, estão buscando desenvolver produtos biológicos.