Qual o papel do agro no combate às mudanças climáticas?

Diretor do Instituto Ethos, Caio Magri, destaca a importância da preservação do solo no setor agropecuário como estratégia eficaz para combater as mudanças climáticas e promover um futuro sustentável

No universo da agricultura e pecuária, a preservação do solo se torna um tópico fundamental à medida que o debate sobre a mudança climática ganha cada vez mais relevância. Caio Magri, diretor do Instituto Ethos explora a ligação intrínseca entre o agro e a necessidade de adotar práticas que garantam a sustentabilidade ambiental.

O que são mudanças climáticas?

Mudanças Climáticas, Aquecimento Global, Agro

Foto: Envato

Mudanças climáticas referem-se às alterações significativas e de longo prazo nos padrões médios de temperatura, precipitação, ventos e outros elementos do clima de um determinado local ou da Terra como um todo. Essas mudanças climáticas são influenciadas por fatores naturais e atividades humanas, com destaque para o aumento das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera.

As mudanças climáticas podem ocorrer em diferentes escalas de tempo, desde variações sazonais até mudanças ao longo de milênios. No entanto, quando se fala em mudanças climáticas atualmente, geralmente se refere ao aquecimento global observado nas últimas décadas, que é impulsionado principalmente pelas atividades humanas.

As principais causas das mudanças climáticas contemporâneas incluem:

  1. Emissões de Gases de Efeito Estufa:
    • A queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás natural) para energia, bem como outras atividades industriais e agrícolas, liberam gases como dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O).
    • Esses gases retêm o calor na atmosfera, criando o chamado “efeito estufa”, que leva ao aumento das temperaturas globais.
  2. Desmatamento e Mudanças no Uso da Terra:
    • A remoção de florestas e desenvolvimento urbano alteram a capacidade do ambiente de absorver CO2 da atmosfera, contribuindo para o aumento das concentrações de gases de efeito estufa.
  3. Uso de Energia e Indústria:
    • O uso intensivo de energia não renovável e processos industriais que liberam gases de efeito estufa contribuem para o aumento das emissões.

Os impactos das mudanças climáticas são vastos e incluem:

  • Aquecimento Global: Temperaturas médias mais altas em todo o mundo, afetando os padrões climáticos, eventos extremos e os ecossistemas.
  • Elevação do Nível do Mar: O derretimento das calotas polares e geleiras, combinado com a expansão térmica da água do mar, contribui para o aumento do nível do mar, ameaçando áreas costeiras.
  • Eventos Climáticos Extremos: O aumento da frequência e intensidade de eventos como tempestades, secas, inundações e ondas de calor.
  • Impactos na Biodiversidade: Alterações nos habitats e nas condições climáticas afetam a distribuição de espécies, ameaçando a biodiversidade.
  • Impactos Socioeconômicos: Mudanças no suprimento de água, segurança alimentar, migração forçada e impactos na economia e infraestrutura.
  • Riscos à Saúde: Aumento das doenças relacionadas ao calor, propagação de doenças transmitidas por vetores e outros impactos na saúde humana.

Agro no combate ao aquecimento global

Caio Magri

Foto: Planeta Campo

Magri levanta questionamentos e oferece insights sobre como o setor agropecuário pode atuar como um aliado crucial na preservação do meio ambiente e no enfrentamento das mudanças climáticas. O Brasil, ocupa posição de destaque no contexto mundial, armazenando no solo uma quantidade de carbono equivalente a setenta anos de emissões de dióxido de carbono, de acordo com dados do MAP Biomas.

A análise elaborada pelo Instituto revela que dos impressionantes trinta e sete vírgula cinco bilhões de toneladas de carbono orgânico existentes no solo brasileiro, cerca de sessenta e três por cento estão sob cobertura nativa estável, uma estatística que ressalta a importância da preservação das áreas naturais e da adoção de um agro sustentável.

Os biomas da Mata Atlântica e do Pampa se destacam nesse cenário, com os maiores estoques médios de carbono orgânico por hectare. A Amazônia, embora não fique atrás, demonstra a necessidade premente de conservar seus estoques, considerando o cenário de redução de vinte e seis vírgula oito para vinte e três vírgula seis giga toneladas de carbono entre 1985 e 2021.

Frente a essas informações, Magri propõe uma série de ações que podem ser adotadas pelo agro para assegurar a sustentabilidade ambiental e a retenção de carbono no solo:

  1. Práticas Sustentáveis: A adoção de técnicas sustentáveis como rotação de culturas, plantio direto e agrofloresta contribui para manter a saúde do solo e a retenção do carbono.
  2. Preservação de Vegetação Nativa: Manter áreas de vegetação nativa em propriedades é fundamental para a retenção de carbono e a proteção da biodiversidade.
  3. Uso Responsável de Insumos: Utilizar fertilizantes e agrotóxicos de forma responsável, seguindo as melhores práticas, minimiza impactos negativos no solo.
  4. Investimento em Tecnologia: Acompanhar tecnologias agrícolas sustentáveis, como sistemas de irrigação eficientes e monitoramento do solo, é essencial para uma agricultura de baixo impacto.
  5. Participação em Programas de Sustentabilidade: Engajar-se em programas e certificações que promovam a agricultura sustentável, como o Certificado de Agricultura Sustentável (CAS), contribui para a construção de um setor agropecuário mais verde e inclusivo.
Mudanças Climáticas, Aquecimento Global, Agro

Foto: Envato

Em suas palavras finais, Magri enfatiza que a preservação dos estoques de carbono no solo não somente contribui para a sustentabilidade, mas também desempenha um papel crucial na luta contra as mudanças climáticas.

“O setor agropecuário brasileiro, ao adotar práticas responsáveis e sustentáveis, molda um futuro mais saudável e inclusivo. Cada produtor, cada cooperativa, possui o poder de fazer a diferença, investindo no solo como um ativo valioso para o país e garantindo um planeta sustentável para as gerações futuras”, relata.

“Isto é um lembrete de que o tempo para cuidar do solo e enfrentar as mudanças climáticas é agora”, finaliza.

Caio Magri
Caio Magri é graduado em Sociologia pela USP, foi gerente de políticas públicas da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, além de coordenador do Programa de Políticas Públicas para a Juventude da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto (SP). Sob a coordenação de Oded Grajew, integrou a equipe da Assessoria Especial do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003. Atualmente é presidente do Instituto Ethos e participa como membro dos seguintes conselhos: Transparência Pública e Combate à Corrupção (CGU); Pró-Ética (CGU); Agro + (MAPA); Infra + (MInfra); Rede Nossa São Paulo; Instituto de Apoio a Crianças e Adolescentes com Doenças Renais (ICRIM); Associação São Agostinho (ASA); Instituto Brasileiro de Autorregulação no Setor de Infraestrutura (IBRIC); Instituto Ética e Saúde; e Fundo JBS Amazônia.