Pecuária intensiva e aditivos alimentares são aliados para descarbonização da pecuária

Adoção de diferentes práticas e tecnologias vão garantir a redução das emissões de metano na cadeia produtiva da carne

Pecuária intensiva e aditivos alimentares são aliados para descarbonização da pecuária

A sustentabilidade da cadeia produtiva da pecuária passa pelos esforços para reduzir as emissões de metano dos bovinos. E o segundo dia do evento Agropecuária no Futuro trouxe algumas técnicas e inovações que devem trazer bons resultados para o setor.

Neste sentido, a pecuária intensiva já vem contribuindo para encurtar o ciclo de produção e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), espera que a prática seja ainda mais difundida na próxima década. “A nossa expectativa nesse horizonte de 10 anos é nós implementarmos algo próximo de 5 milhões de animais em sistemas intensivos de produção”, afirmou Cléber Soares, secretário adjunto de inovação do Mapa, durante a live.

Outra tecnologia que vem surgindo são os aditivos alimentares, que misturados à dieta dos animais têm o potencial de melhorar a fermentação ruminal e reduzir as emissões. O Instituto de Zootecnia de São Paulo (IZ), por exemplo, vem estudando aditivos à base de tanino.

“Trabalhar a fermentação ruminal é uma das formas mais importantes da gente diminuir a emissão, porque a gente sabe que a gente nunca vai conseguir processar tudo, mas a gente consegue otimizar. Então toda vez que a gente otimiza a fermentação ruminal, a gente melhora a produção animal”, disse Renata Branco, diretora de gestão estratégica da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).

Além dos benefícios para o meio ambiente, Renata também explicou que o aditivo à base de tanino também muda o padrão de produção de ácidos graxos, que são a principal fonte de energia dos animais ruminantes. Isso se reflete no ganho de peso dos animais, pois evita eles gastem muita energia.

O Bovaer, único aditivo para redução das emissões de metano já aprovado para comercialização no Brasil, também promete contribuir para a descarbonização da pecuária. “Aqui no Brasil nós tivermos em 2016 e 2017 a oportunidade de uma parceria com Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) para fazer um estudo que revelou que o Bovaer, quando administrado aos animais, aos ruminantes, e nesse caso o gado de corte, reduziu em 55% a emissão do gás metano”, revelou Maurício Adade, presidente da DSM Latam, que produz o aditivo.

Ele também relatou que o percentual de redução pode ser ainda maior. “Para gado de leite, o mínimo é a redução de 30% de gás metano, e para gado de corte nós tivemos até 90% de redução, dependendo da dieta e do tipo de animal”, esclareceu.

Além da eficiência, o produto também age muito rápido no trato digestivo dos animais. “Funciona com um efeito imediato, ¼ de uma colher de chá administrado na ração do animal, por animal, já começa a atuar no mesmo dia em que é administrado”, explicou Adade.

Além da aprovação em território nacional, o Bovaer já está liberado no Chile e foi admitido na comunidade europeia no último mês de fevereiro.

Os aditivos alimentares são importantes aliados para a produção sustentável de carne, mas é a adoção de um conjunto de boas práticas que vai trazer resultados significativos para o setor, lembrou Liège Correia, diretora de sustentabilidade da JBS. “É muito importante que o produtor se conscientize que melhorar as pastagens degradadas, investir em genética, em tecnologia, entregar um animal mais jovem, mais pesado, melhora a rentabilidade da propriedade dele e ajuda o meio ambiente”.

Confira o painel dedicado aos debates sobre as tecnologias para redução de metano na pecuária no segundo dia do evento Agropecuária do Futuro:

Agenda pré-competitiva

As metas que o Brasil e a pecuária brasileira precisam cumprir para atender aos acordos firmados na COP26 são audaciosas, mas possíveis. No entanto, é a adoção de diferentes tecnologias que vão levar o país a cumprir as metas climáticas e, neste cenário, a concorrência fica em segundo plano. “A gente costuma dizer que não é um fator concorrencial, a gente costuma dizer que é uma agenda pré-competitiva em que todos juntos, atuando em diversas frentes, utilizando todas as soluções disponíveis na pecuária brasileira hoje e nos próximos anos, vai fazer com que a gente chegue em 2040 e 2050 com as emissões dos gases de efeito estufa geradas ou recalculadas para que a gente mantenha a sustentabilidade do mundo todo, não só do Brasil”, esclareceu Liège.

Fábio Dias, que é diretor de relacionamentos da Friboi, também pontuou que as tecnologias para descarbonização da pecuária são as mesmas que resultam em mais produtividade e rentabilidade para os produtores. “Primeira coisa que precisa ficar claro é que parece que a gente tá falando de muita coisa, de muita complicação. Mas no fundo, a busca por eficiência acaba arredondando em redução de emissões. A gente vai abater os animais mais jovens, que é uma coisa que a gente já vem fazendo, é algo que o produtor já faz naturalmente. A integração lavoura-pecuária não é uma coisa nova para o Brasil, nós temos aí mais de 13 milhões de hectares com essa prática. São técnicas que já são adotadas. Então os produtores têm que ficar sabendo que eles já vem reduzindo as suas emissões na busca pela eficiência. Portanto, não vai ser uma marcha à ré, uma virada de 180 graus. Na verdade, é continuar nesse rumo e buscar coisas que ainda podem melhorar”, ressaltou.

Confira o segundo dia do evento Agropecuária do Futuro na íntegra

A série de lives Agropecuária do Futuro continua nesta quinta-feira, dia 24, falando sobre os riscos e oportunidades com as legislações na produção de alimentos. Então, acompanhe ao vivo pelo site do Canal Rural, a partir das 17 horas.