Produção de cacau incentiva a bioeconomia na Amazônia

Projeto desenvolvido no Pará apoia 1.500 famílias de pequenos produtores com melhora de renda e preservação ambiental

Produção de cacau incentiva a bioeconomia na Amazônia

Iniciativas de desenvolvimento sustentável, que promovem a preservação da floresta e melhoram a qualidade de vida das comunidades, já são realidade no bioma amazônico. Por meio do Fundo JBS pela Amazônia, 1.500 famílias de pequenos agricultores estão tendo a oportunidade de aumentar a renda em 30% com a produção de cacau em sistemas agroflorestais no Pará.

Saiba mais sobre o programa Restaura Amazônia, do Fundo JBS pela Amazônia

“A produção de cacau é uma cadeia que o fundo resolveu apostar porque tem um potencial de escala imenso. O cacau é um produto que 84% da produção está no Pará – que é o segundo maior produtor do Brasil, o primeiro é a Bahia – em propriedades de agricultura familiar. Pra vocês terem uma ideia, a agricultura familiar na Amazônia perfaz 80% das propriedades. Então é uma área que, embora territorialmente não seja a maior parte, em termos de volume, de impacto social dos produtores, ela é muito grande”, explicou Andrea Azevedo, que é diretora da entidade, no encerramento da série de lives Agropecuária do Futuro.

O projeto leva capacitação e recursos para viabilizar a produção sustentável na região. “A gente tem quase 3 mil assentamentos de reforma agrária. E esses assentamentos foram instalados e, muitas vezes, foram deixados. E para as pessoas produzirem, ela precisam de três coisas básicas: assistência técnica, financiamento ou capital próprio e elas precisam de um mercado, de um mercado que pague bem, enfim. Isso vai fazer com que essas famílias produzam e essa produção tem que ter algumas características, atualmente: ela tem que ser sem desmatamento, ela tem que ser rastreável e ela tem que ser uma produção que cumpra o Código Florestal”, diz Andrea.

Ela também explica em detalhes como o projeto funciona. “O que é mais interessante nesse projeto específico do cacau, na Transamazônica, que envolve aí, a princípio, 1500 famílias, é que são propriedades mais ou menos de 50 hectares, metade delas tem sua vegetação nativa. E na outra parte, que em geral é pasto, a gente tem um trabalho duplo. A gente trabalha pra melhorar essa pastagem, ter boas práticas nessa pastagem, evitar fogo, fazer um bom manejo da pastagem para aumentar a produtividade, em algumas áreas a gente trabalha o manejo rotacionado, então você intensifica e aumenta a produtividade, e uma parte dessa propriedade a gente trabalha com um SAF de cacau. O que é um SAF de cacau? É um Sistema Agroflorestal em que você planta cacau, você planta espécies nativas arbóreas e também planta culturas que ajudam na segurança alimentar. Então você planta banana, mandioca, aquelas primeiras culturas que vêm porque o cacau demora até três anos, elas são para garantir a segurança alimentar e o excedente eles vendem. Então é um sistema muito interessante porque ele aumenta a renda, reduz a emissão de carbono, capta carbono e ele serve, no caso do Pará, para cumprir o Código Florestal. Então é o que a gente chama de restauro produtivo. Porque atualmente o produtor não quer restaurar pra deixar lá, a não ser as áreas de preservação permanente, em beiras de rio e encosta, a maioria precisa gerar alguma renda com o reflorestamento. Então eu acho que o SAF veio pra ficar, ele tem como ganhar escala”.

Andrea explica que o Fundo JBS apoia uma organização chamada Solidariedad, que junto a algumas cooperativas e à agricultura familiar auxiliam o assentamento Tuerê, que é o terceiro maior assentamento da América Latina. “O Solidariedad fez um piloto, ficou lá 5 anos, e o que o Fundo está fazendo é escalar isso de 230 famílias para 1.500. E a gente espera que chegue a 5 mil, 10 mil [famílias], porque, além de ter muita gente querendo fazer essa transformação no uso da terra, fazer verdadeiramente uma agricultura de baixo carbono, além das pessoas quererem, agora a gente está tentando levar junto com esses parceiros as ferramentas para isso”.

A intenção do Fundo JBS é que este trabalho ganhe escala e possa se sustentar sozinho em um futuro próximo. “Daqui cinco anos a gente quer que o fundo saia e que essas coisas já estejam acontecendo”, projeta Azevedo.

Confira o painel dedicado aos debates sobre bioeconomia na Amazônia no terceiro dia do evento Agropecuária do Futuro:

Dificuldades

Uma das dificuldades dos pequenos agricultores que participam do projeto é conseguir crédito. “A gente precisa realmente fazer chegar mais crédito. É muito difícil eles conseguirem crédito, mesmo crédito público do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) não é fácil. Há problemas com questões de garantia, com títulos da terra, então a gente também está buscando instrumentos econômicos, alguns instrumentos que possam ajudar nisso, porque demora três anos para você começar [a ter retorno da produção], então ele deveria ter um investimento para começar a pagar em quatro ou cinco anos. Então não é um custeio que você pega o dinheiro esse ano e no ano seguinte você já tem que pagar”, explica a diretora do Fundo JBS.

Outro desafio dos produtores é o acesso a assistência técnica. “Só 8% da agricultura familiar na Amazônia tem assistência técnica pública. Então, na verdade, o que a gente está tentando fazer é: como é que organizações locais, como as associações e as cooperativas, podem trabalhar dando uma assistência técnica de qualidade? Isso tem que estar no modelo de negócios do agricultor, de qualquer agricultor, grande ou pequeno. Pra você ver, quantas visitas de um técnico um produtor de soja, grande ou pequeno, precisa, principalmente o grande, durante a sua safra? Então a agricultura, a agropecuária, é a mesma coisa. Ele tem que ter uma assistência contínua”, defendeu Andrea.

Reconhecimento

O cacau produzido no assentamento Tuerê pelo produtor João Evangelista já entrou para a lista dos melhores do mundo na premiação do Salão do Chocolate, em Paris, na França. Ele ganhou o prêmio de segunda melhor amêndoa do mundo no campeonato que teve, que foi em Paris, recebeu o prêmio. Então, isso é uma alegria, esse é o Brasil que a gente está falando, da Amazônia. O cacau é uma fruta nativa, é um produto nativo da Amazônia e a gente hoje importa cacau. As processadoras, os chocolateiros, hoje a gente importa cacau. Poxa vida, a gente tem que trabalhar, a gente quer ajudar, a gente quer aumentar a produção de cacau no estado do Pará, sem desmatamento, com qualidade e com inclusão social”, diz Andrea Azevedo.

Saiba mais sobre a produção de cacau na Amazônia

O reconhecimento tem sido um incentivo a mais para os produtores. “Isso, pelo que o pessoal conta, que está mais próximo aos produtores, têm aumentado muito a autoestima deles de produzir um cacau com mais qualidade, de ter um processo de fermentação diferenciado”.

Confira o último dia do evento Agropecuária do Futuro na íntegra: